Ao pensarmos sobre a presença da arte na educação infantil, logo se pensa em práticas comuns, como oferecer folhas sulfites brancas para desenhar ou com uma imagem previamente impressa para pintar, massinha colorida para modelagem e tintas de várias cores e texturas. Além disso, é comum que se desenvolva atividades com sucatas em geral e disponibilize revistas para recorte, colagem e rasgaduras. Muitas vezes, essas atividades são utilizadas como prêmio pelo bom comportamento dos alunos ou para ocupar o restante do tempo da aula, mas esse não é o objetivo da arte.
Na educação infantil, a contação de histórias, em alguns casos, é muito semelhante à leitura formal e desinteressante de um texto qualquer, desprovido de magia e encantamento. As danças e encenações teatrais, no geral, ficam restritas às datas comemorativas que, por sua vez, nem sempre trazem significado para a criança. Há tantas outras práticas desconectadas com o universo dos alunos – o fazer pelo fazer. Estaria a arte presente nessas práticas?
Segundo Ostento (2010), o educador é “essa pessoa-chave para mediar os caminhos da criança no mundo simbólico da cultura, da arte. E nesse caminhar, na experiência compartilhada, ele vai aprendendo a reparar em seu ser poético. Seguindo de mãos dadas com as crianças e comprometido com o resgate de seu próprio eu-criador, o professor amplia sua possibilidade de compreendê-las, de reconhecer seus ‘despropósitos’ e apoiar suas buscas e escolhas. Converte-se, então, em parceiro privilegiado de novas e infinitas aventuras poéticas”.
O papel do professor mediador é o de organizar o ambiente, promover situações problema, propostas e provocações, estabelecendo correlação com a faixa etária das crianças. Essa postura docente é fundamental para criar um ambiente propício à criatividade e à expressão. A partir do momento que o educador entender que as crianças vivenciam e produzem cultura, que são seres ativos e sujeito de direitos, a prática docente tende a ser transformada e entendida como suporte, ponte, elo de ligação para novos saberes.
Holm (2007) afirma que “quando se trabalha com a primeira infância, arte não é algo que ocorra isoladamente. Ela engloba: controle corporal, coordenação, equilíbrio, motricidade, sentir, ver, ouvir, pensar, falar e ter segurança”. Trabalhar com a arte na educação infantil é abraçar o mundo com o corpo todo. Para que isso ocorra, é preciso dar o direito da criança se expressar do jeito dela, com a estética que lhe é peculiar e de todas as formas possíveis. Quanto mais elementos artísticos o educador apresentar para as crianças, mais rica será a linguagem e a expressividade delas.
Criar e deixar criar livremente talvez sejam caminhos ainda não percorridos por muitos, mas necessários e urgentes quando se fala de educação infantil e arte. A criança é um campo fértil para a criatividade e a imaginação, e professores, muitas vezes sem intenção, subestimam sua capacidade e impedem seu desenvolvimento estético cada vez que interferem demasiadamente e direcionam sua expressão artística-criativa, sufocando as possibilidades de novos saberes.
Para garantir oportunidades para a expressão viva da criança, precisamos considerar que “expressar não é responder a uma solicitação de alguém, mas mobilizar os sentidos em torno de algo significativo, dando uma outra forma ao percebido e vivido” (CUNHA, 1999), o que também é diferente de simplesmente “deixar fazer”, acreditando na chamada “livre expressão”. Para mobilizar os sentidos, é essencial o enriquecimento de experiências, promovendo encontros com diferentes linguagens, alimentando a imaginação para que meninos e meninas possam aventurar-se a ir além do habitual, à procura da própria voz e da sua poesia. (OSTETTO, 2010).
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