“Primeiro a pessoa, depois a deficiência”. Foi com essa frase que o professor de Educação Física do Colégio Batista Hélio Ribeiro de Andrade definiu a importância do olhar humanizado para as pessoas com deficiência. O educador realiza um trabalho voluntário como preparador físico da Associação Esportiva Minas Gerais Quad Rugby, conhecidos também como os “javalis”. A equipe é a atual tetracampeã brasileira da modalidade de rugby em cadeira de rodas.
A história do professor Hélio e o esporte para deficientes físicos iniciou-se ainda na faculdade. Ele conta com os olhos brilhando a primeira vez que teve contato com uma das modalidades por meio de uma professora da graduação. “Fui convidado a participar da Corrida PPD, que é destinada às pessoas portadoras de deficiência física, intelectual, auditiva e visual, aqui em BH. E foi o meu primeiro contato com esse universo, estava no 2º período da faculdade, e fiquei encantado com o aprendizado. Eu ajudei a guiar as pessoas com baixa visão e depois trabalhei com os corredores com síndrome de Down”, relembra. Depois, já como professor do Colégio Batista, Hélio conheceu outras modalidades esportivas, como o tênis, a bocha e a natação por meio de uma educadora da escola que estava fazendo uma pesquisa sobre um projeto de política pública da Prefeitura de Belo Horizonte e que trabalha a inclusão social de pessoas com deficiência por meio da prática de atividades físicas.
Prof. Hélio Ribeiro de Andrade se preparando para as aulas de Educação Física na Unidade Floresta
Em 2010, Hélio inicia a caminhada para conhecer mais de perto o rugby em cadeiras de rodas. O educador fez um curso sobre a modalidade e ganhou um desafio de montar uma equipe de rugby em Belo Horizonte. Com apoio da BH Rugby e de amigos, sua equipe começou com três atletas. Na época, o professor fazia palestras no Hospital Sarah Kubitschek, centro de referência em reabilitação de vítimas de politraumatismo, em busca de futuros competidores e com muita persistência foi formando a base de um time vencedor. Já em 2013, a equipe rompe a parceria e se torna a Associação Esportiva Minas Quad Rugby, uma instituição independente.
“A partir desse período nosso time passou por vários desafios, como falta de patrocínio, perda de atletas para outros times, falta de verba e tivemos que jogar a segunda divisão do campeonato brasileiro. Depois desse percurso de muita luta e resiliência, conseguimos voltar para a primeira divisão e desde 2016 não perdemos nenhum jogo do Campeonato Brasileiro de Rugby em cadeira de rodas. Somos tetracampeões brasileiros (2016,2017,2018, 2019), apenas em 2020 não aconteceu a edição da competição em decorrência da pandemia de covid-19. É uma alegria muito grande ver todas as conquistas desse grupo como pessoas e atletas de alto rendimento”, conta.
Em sintonia com os valores e virtudes trabalhados no Colégio Batista Mineiro, o professor Hélio busca aplicar todo o aprendizado, a vivência e a experiência adquiridos com o projeto da equipe do Minas Quad Rugby para as quadras do colégio. “Já havia um trabalho no Batista há alguns anos desenvolvido por outros educadores que trabalhavam a perspectiva do corpo diferente, como o “diferente” nos incomoda e de que forma aprendemos a lidar com isso. Era uma inciativa que visava a reflexão crítica em relação a vários exemplos da sociedade, tendo como objetivo multiplicar o respeito e igualdade em sociedade. Dessa forma, fui ao longo do tempo realizando algumas mudanças nessa proposta e trouxe o Rugby para pessoas com deficiência para o dia a dia dos estudantes do Ensino Médio”, explica Hélio.
De acordo com o professor, é comum enxergarmos o outro com um olhar “capacitista, preconceituoso, uma objetificação do corpo do outro para nos motivar a fazer algo”. Para o educador, a oportunidade de trabalhar um olhar humanizado é essencial para quebrar estereótipos e desenvolver uma sociedade mais inclusiva. Ainda segundo Hélio, um dos primeiros conceitos inseridos na aprendizagem das aulas é a frase: “primeiro a pessoa, depois a deficiência”, mostrando para os alunos que ser humano está além daquela deficiência física, intelectual, visual ou auditiva que vemos.
O educador explica que além da teoria sobre o esporte durante as aulas, os estudantes têm a oportunidade de conhecer e de praticar a modalidade com os atletas. “Eu convido alguns da equipe Minas Quad Rugby e eles conversam com os discentes, falam do dia a dia, desafios, aprendizados e como é ser um atleta de alto rendimento. Os estudantes sentam-se na cadeira, observam o contexto daquela pessoa com deficiência e passam a perceber que a cadeira de rodas não aprisiona, pelo contrário, ela liberta. Eu também aprendi a mudar essa percepção com os esportistas. É sempre muito bacana receber o retorno dos alunos que contam como essa experiência mudou a forma de olhar e perceber o outro ou de falar com uma pessoa com deficiência. É transformador para nós educadores ver a mudança acontecendo”, afirma.
*Foto: Tathiane Mendes Costa