Ter autoridade sem ser autoritário. Esse é um dos grandes desafios enfrentados pelos pais no processo de formação dos filhos. Afinal, nas situações cotidianas, como um pedido infantil inapropriado, uma decisão inevitavelmente precisa ser tomada: ceder ou negar. A questão, contudo, é de que forma essa escolha é transmitida, o motivo por trás dela e os seus efeitos na vida dos filhos.
Antes de tudo, é importante entender que, diferentemente de autoritarismo, que é impor uma vontade nossa sobre o outro, a autoridade pode ser exercida com base em três vieses. O primeiro deles é o conhecimento, isto é, quando se compreende que alguém possui mais conhecimento e, por isso, conduz o outro. O segundo viés é físico, ou seja, há autoridade porque um é mais forte do que o outro. O terceiro é pela idade: exerço autoridade porque sou mais velho do que o outro. Vale destacar que os pais em geral estão revestidos por todos esses vieses.
Contudo, o excesso de rigidez ou de proteção pode acabar atropelando o exercício da autoridade, prejudicando assim a ascensão dos filhos. Sim, não apenas o autoritarismo, mas também a falta de autoridade pode ser danosa na formação das crianças e dos adolescentes.
Famílias com dificuldade de estabelecer regras e disciplina reproduzem filhos dependentes e, portanto, com problemas de autonomia. E autonomia pode ser entendida como a capacidade de administrar ou executar uma atividade sozinho.
Por mais que o ser humano já nasça com o instinto de sobrevivência que o motiva a agir em certas ocasiões, cabe aos pais identificar quando os filhos estão preparados para realizar sozinhos atividades específicas, ainda que demorem ou pareça muito difícil para eles.
Estimular esse progresso irá despertar neles o senso de proatividade na vida adulta e torná-los emocionalmente mais maduros. A autonomia desenvolvida na infância contribui ainda para o processo do poder de escolha, para a capacidade de lidar com as frustrações e para o desenvolvimento de virtudes importantíssimas como ordem, fortaleza, coragem, persistência e caridade. Inicialmente, tarefas simples como vestir-se, escolher a fruta do lanche, escovar os dentes e guardar os brinquedos podem ser grandes aliadas nesse processo, fazendo muita diferença para o desenvolvimento saudável da autonomia.
Por fim, é importante frisar que formar crianças autônomas irá exigir muito amor e paciência dos pais, já que muitos acabam impedindo ou interrompendo o filho na realização de uma tarefa. Hoje, isso tem ocorrido por motivos como pressa, o desejo de perfeição na execução daquela atividade ou até mesmo por culpa, devido às ausências constantes de casa. Este último caso tem se tornado cada vez mais comum, uma vez que as famílias têm ficado muito envolvidas com o mundo do trabalho, reservando, assim, pouco tempo para os filhos.
Diante disso, hoje o convite é para rever nossas atitudes e, se necessário, corrigi-las, antes que nossas crianças cresçam, tornando mais difícil contornar uma situação não desejada.
Por Sandra Beconha
Diretora da unidade BH Floresta/Séries Iniciais
Pedagoga, psicóloga, especialista em Psicopedagogia e pós-graduada em Análise de Sistemas