Ser corajoso é muito bom. Especialmente quando essa coragem é para o bem.
Para se ter uma ideia disso, basta lembrar que os antigos gregos, considerados como os primeiros a tentar compreender o mundo a partir do que o ser humano era capaz de conhecer ou de aprender, davam tanta importância à coragem que a consideraram uma das 4 virtudes cardeais. Cardeal aqui significa o que é principal, o que é mais importante ou o que tem o maior significado.
A coragem pode ser definida, em primeiro lugar, como firmeza diante das dificuldades, envolvendo capacidade para ultrapassar as situações de perigo e enfrentar o medo.
Ela pode ser compreendida, também, como constância ou persistência na busca do bem ou do melhor, o que implica em capacidade para suportar sofrimentos e ser paciente quando a situação vivida não é favorável.
É, além disso, força de espírito ou força interior para não desistir diante daqueles momentos que são emocionalmente difíceis, como quando se perde um ente querido.
É também grandeza de alma, quando a pessoa tem coragem para abrir mão de um benefício pessoal em favor de alguém ou de uma comunidade.
É desejável que a coragem seja vivida a partir da experiência de fé. Nesse caso, a fé será a força propulsora da coragem. Torna-se mais fácil e mais coerente quando a ação corajosa é motivada por aquilo que acreditamos. É que a pessoa que tem fé pode agir mais corajosamente pois, de antemão, é capaz de enxergar a possibilidade de realizar sonhos que façam sentido em sua vida e na vida dos outros, que consegue ver onde deseja chegar.
É como o navegador que, no meio do mar, só é capaz de ver a linha fria do horizonte, mas que sabe que além dessa linha o aguarda a terra firme onde poderá, finalmente, descansar depois de uma longa jornada.
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
’Splendia sobre as naus da iniciação.
Linha severa da longínqua costa –
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.
O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp´rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –
Os beijos merecidos da Verdade.Fernando Pessoa
É a maravilhosa sensação de descobrir um novo céu e uma nova terra. É o mesmo movimento que se faz quando entramos em contato com um novo conhecimento, quando passamos a perceber um determinado problema sob uma nova perspectiva. Funciona como uma certeza interior que nos faz caminhar. Dessa forma, corajosamente, podemos ir adiante, superando obstáculos, cruzando mares e desertos, subindo montanhas, atravessando rios…realizando nossos sonhos.
As pessoas mais corajosas são, quase sempre, mais abertas à experiência e tendem a viver cada momento da vida com grande intensidade. Gostam de situações desafiadoras, espírito de aventura é com elas mesmas.
Curiosidade e imaginação costumam estar presentes em sua agenda cotidiana. São desbravadoras, desejam sempre dar um passo mais adiante. Ficar parado no mesmo lugar, para elas, é tortura imensa. Rotina, repetição, passar sempre pelos mesmos caminhos, métodos rígidos, nada disso diz respeito a elas. São como os navegadores do passado e do presente, dos mares e dos céus, indo sempre além.
O corajoso não teme se expressar diante do outro. Nesse sentido, sua ação é extrovertida, é comunicativa. Ele é falante, ativo e gregário, quer dizer, gosta de estar com as pessoas, de estar em grupo. É otimista, por excelência, sociável e afetuoso. O corajoso não gosta de ficar preso atrás de muros que o impeçam a colocar o pé na estrada e seguir em frente. É como nos mostra a poetiza Cora Coralina em um dos seus poemas: “A verdadeira coragem é ir atrás dos seus sonhos mesmo quando todos dizem que ele é impossível”.