A relação entre fé e cultura na Rede Batista de Educação pode ser caracterizada como “in-tensa”. Por um lado, essa tensão pode ser pensada ao considerarmos que, como escola confessional, encontramos algumas áreas do conhecimento que poderiam apresentar certas zonas de conflito.
No entanto, a experiência dos muitos anos de trabalho em educação tem nos ensinado que não há nada a temer – afinal, não abrirmos mão do princípio bíblico expresso pelo apóstolo Paulo na carta aos Tessalonicenses: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Tessalonicenses 5: 21). Desde o marco inicial de nossa história, nos idos de março de 1918, nossa relação com o conhecimento tem se caracterizado pela busca da excelência espiritual, moral e intelectual.
Por outro lado, pode-se pensar essa intensidade como uma tensão gerada no nosso coração ao percebermos a responsabilidade que Deus nos outorgou de aprender a ler, por meio do conhecimento dado por Ele, o livro de Gênesis, que diz: “Havendo, pois, o Senhor Deus formado da terra todo animal do campo e toda a ave dos céus, os trouxe a Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda alma vivente, isso foi o seu nome” (Gênesis 2:19).
Assim, Deus nos convida a fazer ciência, a criar todo tipo de linguagem possível para que esse seu livro da natureza seja devidamente decodificado, assimilado e vivenciado.
Podemos afirmar, com base nessa proposta divina, que nossa escola se sente definitivamente comprometida em estimular e aprofundar o diálogo entre fé e cultura. Isso porque, se a fé é experimentada como algo completamente desvinculado do mundo da cultura e, de certo modo, contra a cultura, estaríamos desconfiando do próprio Deus Criador de todas as coisas. Além disso, como contribuir para a transformação do mundo se nos isolamos dele completamente?
Se abrimos mão da fé que professamos em Cristo ou passamos a ver o mundo de uma perspectiva dessacralizada ou secularizada, corremos o risco de experimentar uma perda progressiva de significado, de ver vidas preciosas prisioneiras do círculo vicioso das satisfações imediatas.
De certo modo, é o diagnóstico que faz Eric Hobsbawm, no livro “Era dos Extremos: o breve século XX”, a respeito da maioria dos jovens: “Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem”. Esses são jovens sem raízes no passado e sem visão de futuro.
Diante desse cenário, uma instituição de ensino confessional e comprometida com os valores da fé cristã deve, sem dúvida nenhuma, estimular o espírito humano a voar na direção da verdade, mas tendo por princípio que este voo só é possível quando se voa com asas da fé e da cultura em equilíbrio. E o que pode nos ajudar nesse equilíbrio é um conjunto de princípios que deve fornecer a aerodinâmica suficiente para que os voos na direção da verdade aconteçam em condições ideais.
Comprometemo-nos, sim, com toda a força que temos como instituição confessional, a buscar a excelência acadêmica. Mas compreendemos que, além de cérebros brilhantes, é fundamental zelar pela formação de cidadãos na acepção plena da palavra, que sejam bons amigos, solidários, generosos, pacientes, tolerantes, criativos, verdadeiros, responsáveis. Eis aqui o espaço próprio da experiência de fé, do exercício o mais pleno possível do amor a Deus e ao próximo, do Cristo que transforma a cultura.
Por Pastor Rubens Cordeiro
Capelão-geral da Rede Batista de Educação
Mestre em Psicologia (UFMG)
Doutorando em Teologia (FAJE)