Escrito por Ramon Maciel*
Confesso logo de cara: esse título não me agrada muito. Sinceramente, não acredito que existam exatamente sete dicas mágicas para construir uma relação de confiança com seu filho adolescente. A vida real é bem mais complexa do que qualquer lista de internet — e quem tem um adolescente em casa sabe disso!
Mas, sejamos francos… títulos assim funcionam. Eles atraem, chamam atenção e fazem você clicar, porque todo mundo ama uma lista objetiva, direta, que (supostamente) resolve a vida em poucos passos.
Se você começou a ler só por causa do título, não se sinta enganado. Na verdade, ele cumpriu seu papel: trouxe você até aqui. E pode respirar aliviado — eu vou, sim, entregar essas tais “7 dicas”. Talvez não exatamente do jeitinho que você imaginava, mas prometo que serão dicas sinceras, úteis e, quem sabe, até surpreendentes.
Tenho dois filhos — um pré-adolescente e outro já na fase da adolescência. E, ao longo desses anos, aprendi que algumas das minhas atitudes têm um impacto enorme na vida deles. Curiosamente, muitas dessas descobertas não vieram de livros, cursos ou grandes reflexões, mas surgiram no meio da rotina — em conversas despretensiosas, momentos de descontração e até em situações totalmente inesperadas.
As dicas que vou compartilhar com você são simples, do dia a dia, mas, ao mesmo tempo, carregam uma profundidade que faz toda a diferença. Elas não têm a intenção de ensinar a manipular seus filhos em busca de obediência ou respeito forçado. Longe disso. São atitudes que constroem vínculos reais, verdadeiros e duradouros. E, pode acreditar… elas funcionam.
Sendo assim, é isso que quero lhe oferecer:
Apenas ouça. Simples assim. Sem interromper, sem julgar, sem correr para dar conselhos na primeira pausa. Escute de verdade. Guarde tudo no coração, deixe as palavras amadurecerem dentro de você. Durma uma, duas noites pensando no que ouviu… e depois, adivinha? Ouça mais um pouco!
Ouvir com qualidade é saber fazer as perguntas certas. Evite começar com “por que”. Isso geralmente soa como cobrança, julgamento ou até acusação, mesmo sem querer. Prefira perguntas que começam com “o que”. Veja a diferença:
3ª dica: Ouça com paciência
Muitas vezes, quando nossos filhos compartilham algo, nós, com nossa experiência, já sabemos como aquela história vai terminar. E, no automático, soltamos um clássico: “Ah, isso vai passar…”
Só que, para ele, não passou ainda. Está passando. Ele está no meio do turbilhão, vivendo o “gerúndio da aflição”. E, nesse momento, o que ele mais precisa não é de soluções prontas, nem de discursos… mas de alguém que tope atravessar esse momento junto com ele. Um simples abraço, um olhar acolhedor ou até o silêncio ao lado já pode ser suficiente.
Por mais difícil que seja admitir, nós, pais, não sabemos tudo. Os adolescentes de hoje lidam com desafios que, embora pareçam parecidos com os que enfrentamos, têm um formato totalmente diferente. Nós sofremos com rejeição, sim — mas eles encaram a rejeição digital, pública, rápida e muitas vezes cruel. Nós brigávamos cara a cara, na saída da escola… eles brigam atrás de uma tela, em grupos, chats e redes sociais, onde as palavras podem ferir tanto quanto, ou até mais, que um empurrão no recreio.
Por isso, ouvir nossos filhos é também um exercício de aprendizado. É tentar entender o mundo deles, a linguagem deles e o que, de fato, dói — mesmo que pareça pequeno ou estranho aos nossos olhos adultos.
Enquanto seu filho fala, mantenha seu coração em oração. Sim, vá ouvindo… e, ao mesmo tempo, conversando baixinho com Deus no pensamento. Peça sabedoria, discernimento, sensibilidade. Algo assim:
“Senhor, me dá sabedoria para entender o coração do meu filho… me ajuda a enxergar além das palavras e perceber o que ele realmente está vivendo.”
Ah, essa parte a gente costuma fazer bem, não é? E precisa fazer, sim! Não tenha medo de corrigir seu filho. Afinal, ele não sabe tudo, está aprendendo a viver, e errar faz parte desse processo.
Quando você percebe que ele está se perdendo em alguma área da vida, corrija. Chame de volta. Oriente. Corrigir não é falta de amor — é justamente o contrário. É cuidado, é proteção, é compromisso com o futuro dele.
Sabe aquele papo de “Ah, se eu corrigir, ele vai ficar chateado comigo”? Esqueça! Ter medo de corrigir um filho é, na prática, ter medo de ajudá-lo a ser feliz e bem ajustado lá na frente.
7ª dica: Ouça com alegria
Agradeça a Deus todos os dias pelo privilégio de poder ouvir seu filho. Sinta alegria no coração quando ele decidir abrir a boca e compartilhar algo com você — seja uma dor, uma dúvida ou uma conquista. Essa é uma bênção preciosa, cada vez mais rara nos dias de hoje. Eles querem, mais do que tudo, um relacionamento profundo com os pais. Amigos e escola têm seu valor, claro, mas vocês, pais, são a base de tudo — mesmo que eles ainda não percebam isso.
E sabe aquele ouvido atento, cheio de amor? Ele é a paz que acalma as tempestades internas do seu filho.
Espero que tenha valido a pena ter sido atraído pelo título.
*Ramon Maciel, capelão do Colégio Batista Mineiro BH – Floresta/Séries Finais